Para quem não conhece sua história, vamos resumir rapidamente.
O tratamento do câncer de mama manteve-se, por quase 7 a 8 décadas, no tratamento cirúrgico radical exclusivo (retirada ampla da mama, com músculos peitorais, linfonodos e eventualmente costelas): esta era a ideia de Halsted, outro
Cirurgião americano que iniciou sua atuação no final do século 19 e acreditava que o câncer de mama se “espalhava” pelo corpo de maneira organizada, portanto uma cirurgia ampla seria capaz de curar as mulheres. Entretanto, as pacientes continuavam morrendo, especialmente aquelas com tumores mais avançados enquanto aquelas com doença inicial ficavam curadas, porém desfiguradas. Apesar disso, a comunidade cirúrgica seguidora da idéia de Halsted dificultava a pesquisa e adição de tratamentos adicionais (medicamentoso e radioterapia) assim como se negava a colocar em prova num estudo a teoria radical: diversos pesquisadores foram ridicularizados quando tentavam colocar em teste a teoria cirúrgica radical. Coube a Bernard Fisher demonstrar, inicialmente em animais, que o câncer se disseminava de maneira desorganizada, completamente diferente da idéia vigente. Na sequência, esta nova teoria foi testada em mulheres, através de um estudo clínico randomizado, evidenciando que a cirurgia radical não influenciava a cura quando comparada a cirurgias menores, menos mutilantes. As portas estavam abertas para novas opções: inúmeros estudos de terapias adjuvantes (quimioterapia e hormonioterapia) surgiram na sequência influenciados pelos resultados do estudo do Dr. Fisher. A cirurgia conservadora foi consequência direta disso. Em outros países, diversos pesquisadores começaram a segui-lo: os exemplos mais emblemáticos foram do Dr Veronesi (estudo de quadrantectomia) e do Dr. Bonadonna (estudo sobre quimioterapia) na Itália. Dr. Fisher foi um dos cirurgiões mais contestados da história por seus colegas contemporâneos e chegou a ter seus resultados questionados, inclusive judicialmente. Mas o tempo e dezenas de estudos que se seguiram demonstraram que ele tinha razão. Há uma estimativa que Milhares de mulheres foram mutiladas em vão devido a uma crença exagerada do conhecimento da época. Hoje, vemos claramente como foram importantes essas mudanças: as taxas de recidivas locais caíram drasticamente independente do tamanho da cirurgia e muitas mulheres não terão metástases devido ao tratamento multimodal.
Descanse em paz, Dr Fisher !