Estudo recente publicado na revista Cancer mostra que pacientes com câncer de mama que tiveram boa resposta à quimioterapia podem preservar suas mamas com segurança.
O tratamento cirúrgico do câncer de mama em doenças mais avançadas tem mudado ao longo dos anos. Cirurgias radicais têm sido substituídas por técnicas mais conservadoras. Recente estudo demonstra a segurança da conservação da mama em mulheres que tiveram resposta ao tratamento por quimioterapia.
Um dos conceitos mais antigos da mastologia envolve o tamanho da cirurgia após quimioterapia neoadjuvante: velhos dogmas falavam da necessidade de cirurgias radicais mutilantes, mesmo em caso de boa resposta. Mas um estudo, entretanto, evidencia que este conceito não encontra respaldo na ciência. Uma análise envolvendo mais de 600 pacientes com câncer de mama não Metastático (doença em outros órgãos distantes) avaliou a segurança da cirurgia conservadora após tratamento com quimioterapia neoadjuvante. Foram incluídas também pacientes que não eram elegíveis ao tratamento conservador antes de iniciar quimioterapia (em geral por doença mais avançada na mama). Estas mulheres tinham média de idade de 52 anos e em mais de 60% dos casos tinham axila comprometida inicialmente.
Após cerca de 3 anos de seguimento, a recorrência local foi cerca de 3% e não foi diferente, independente se estas pacientes não tinham possibilidade de preservar a mama antes de iniciar o tratamento, quando comparadas àquelas submetidas a mastectomia. Este estudo contemporâneo demonstra claramente que o planejamento da cirurgia deve levar em consideração a resposta ao tratamento medicamentoso e estruturas inicialmente comprometidas podem ser preservadas com segurança.
Estes resultados, porém, não chegam a ser uma novidade. Há algumas décadas, vários estudos têm repetidamente demonstrado ausência de impacto na sobrevida em pacientes que tem boa resposta e preservam suas mamas. Estes dados também vão ao encontro de análises de preservação da axila, onde mulheres com doença axilar inicial são poupadas de dissecção axilar caso apresentem resposta ao tratamento. Atualmente, há estudos avaliando o papel da radioterapia isolada se houver uma resposta completa após tratamento com quimioterapia. O conceito atual de tratamento multimodal tem possibilitado melhor tratamento cirúrgico a mulheres com câncer de mama mais avançado.
Em resumo, velhos dogmas de tratamento tem caindo ao longo do tempo: cirurgias radicais baseadas no estágio inicial antes da quimioterapia podem ser substituídas por cirurgias mais conservadoras da mama ou por mastectomias menos agressivas (com preservação da pele, ou até mesmo do complexo aréolo-mamilar). Caso tenha qualquer dúvida, converse com seu mastologista e sua equipe multidisciplinar.
Fonte: Mamtani A, et al. Is local recurrence higher among patients who downstage to breast conservation after neoadjuvant chemotherapy? Cancer. 2022 Feb 1;128(3):471-478. doi: 10.1002/cncr.33929.
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Texto escrito por:
Dr. Francisco Pimentel Cavalcante
Fortaleza/CE | CRM-CE: 7765
Dr. Francisco Pimentel é membro do Portal Câncer de Mama Brasil.
Médico Mastologista Titular pela Sociedade Brasileira de Mastologia(SBM).
Também é afiliado a Sociedade Americana de Cirurgiões Mamários (ASBS, Membro Nº 24435038) e a Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO, Membro Nº 231791).
Atua na cidade de Fortaleza.