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    Muito se conhece a respeito da importância da mamografia na avaliação e no rastreamento do câncer de mama, mas será que o papel da ressonância magnética de mamas é tão conhecido? Recebemos muitas dúvidas a respeito desse exame e de suas indicações e, por isso, decidimos abordar mais profundamente esse tema tão importante.

    Em primeiro lugar, é interessante entender algumas características desse exame. O aparelho de ressonância magnética funciona como um ímã que produz um campo magnético quando a paciente se encontra dentro da máquina (nesse caso, deitada de barriga para baixo, ou decúbito ventral, com as mamas posicionadas em uma abertura). Esse campo magnético induz os prótons do nosso corpo a se alinharem. Esse alinhamento é captado, produzindo imagens nítidas das mamas, axilas e parede torácica com muita riqueza de detalhes. A ressonância magnética de mamas é um exame que não utiliza radiação.

    Usualmente é necessária a injeção de contraste, uma substância injetada na veia que ajuda a visualização de possíveis lesões. O contraste utilizado é o gadolínio, uma substância em geral bem tolerada com raríssimos casos de reações adversas ou alergias. Para as mulheres que ainda não entraram na menopausa, uma dica importante é que a melhor época para se realizar uma ressonância de mamas é na segunda semana do ciclo menstrual (entre o 7º e 12º dia do ciclo).

    Mas todas as mulheres necessitam realizar ressonância magnética de mamas?

    A resposta é: NÃO! Esse exame é extremamente útil em alguns casos e será solicitada pelo médico mastologista quando necessário, mas de maneira geral a mamografia (associada ou não à ultrassonografia) é suficiente para avaliação das mamas na maioria das mulheres. Vamos destacar então as principais indicações de ressonância magnética de mamas:

    Rastreamento em mulheres de alto risco (risco de desenvolver câncer de mama ao longo da vida maior que 20%).

    Nessa população, a realização de ressonância associada a mamografia pode aumentar as chances de a mulher sobreviver caso tenha câncer de mama (sobrevida), por diagnosticar o tumor bem no início, quando as taxas de cura com o tratamento adequado são maiores.

    Um grupo de destaque é o das portadoras de mutações genéticas, como portadoras de mutações nos genes BRCA1 e BRCA2 (síndrome do câncer de mama e ovário hereditários), TP53 (Síndrome de Li-Fraumeni), entre outras.

    Outro grupo que se beneficia dessa conduta são mulheres que foram submetidas a radioterapia na região torácica bem jovens, antes dos 30 anos de idade, para tratamento de linfomas. Os protocolos variam, mas em geral a ressonância magnética de mamas deve ser realizada uma vez por ano nesse grupo de alto risco. Nessas pacientes, o exame é capaz de detectar câncer em 94% a 100% dos casos.

    Estadiamento em mulheres com lesão já confirmada para câncer de mama

    A avaliação pré-operatória de mulheres com câncer de mama com ressonância não é um consenso entre os diversos protocolos, e não deve ser utilizada de rotina. Porém, alguns casos podem se beneficiar da avaliação adicional de ressonância para avaliar a extensão da lesão e a presença de outros tumores (na mesma mama ou na mama contralateral).

    Ela é capaz de avaliar o acometimento tumoral de estruturas anatômicas profundas, como o músculo peitoral e parede torácica. Alguns protocolos sugerem solicitar ressonância em pacientes jovens, com tumores triplo-negativos, em mamas densas (aquelas mamas que possuem muita glândula e pouca gordura em sua constituição) e no carcinoma lobular invasivo. Ressaltando novamente que não há padronização nessa conduta e cada caso deve ser individualizado pelo mastologista .

    Ressonância magnética para avaliação de resposta à quimioterapia neoadjuvante

    Algumas pacientes com diagnóstico de câncer de mama iniciam o tratamento com quimioterapia, com o objetivo de reduzir (ou remover completamente) o volume de doença em mama e/ou na axila, possibilitando cirurgias mais conservadoras em alguns casos. Após a quimioterapia, é importante avaliar o tumor residual através do exame físico e dos exames de imagem. A ressonância magnética de mamas pode ser solicitada como complementação dessa avaliação, auxiliando o cirurgião no planejamento da cirurgia.

    Carcinoma oculto da mama

    O carcinoma oculto da mama é aquele tumor que se manifesta nos gânglios (linfonodos) da axila, mas sem um tumor identificável na mama ao exame físico e nos exames de imagem, como a mamografia. A ressonância ajuda muito nesses casos, pois consegue identificar a lesão da mama em mais de 60%, tendo um importante papel nesse cenário.

    Avaliação de implantes de silicone

    A ressonância magnética é o melhor método para avaliação de implantes de silicone e expansores. Ela é capaz de detectar pequenas rupturas, antes mesmo da mamografia e da ultrassonografia. Algumas recomendações sugerem realizar esse exame de rotina, mesmo em mulheres assintomáticas (sem sinais clínicos, como dor ou diferenças no tamanho das mamas – assimetrias). O FDA, órgão regulador americano, orienta realizar uma avaliação com ressonância de mamas e/ou ultrassonografia mamária após 5 anos da mamoplastia de aumento, e após essa primeira avaliação realizar controle a cada 2-3 anos.

    Avaliação de achados inconclusivos nos outros exames de imagem

    Em alguns casos de difícil diagnóstico, a mamografia e a ultrassonografia não são capazes de esclarecer todas as alterações clínicas e de imagem da paciente e a ressonância pode ser usada como método complementar adicional para elucidação de dúvidas. Em resumo, a ressonância magnética de mamas é uma importante ferramenta para avaliação das mamas em casos selecionados e, como demonstrado nesse texto, pode ser uma excelente aliada das mulheres e médicos assistentes quando bem indicada e utilizada. Fiquei na dúvida em acrescentar ou não a seguinte frase: Solicitar ressonância em pacientes com diagnóstico de câncer de forma indiscriminada pode aumentar as taxas de mastectomia (retirada da mama) sem a real necessidade desse procedimento.

    Texto escrito por:

    Dra. Carolina Nazareth Valadares

    Membro titular da Sociedade Brasileira de mastologia, com título de especialista em mamografia pelo CBR. Equipe da mama do Salomão & Zoppi – DASA São Paulo
    Instagram @dracarolinavaladares

    Dra. Flora Finguerman Menache Dwek

    Radiologista mamária, membro titular do CBR, SPR, RSNA e SBI – coordenadora Mamografia DASA-SP

    Portal Câncer de Mama Brasil

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