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    Obrigada, Angelina

    Leila, médica, 41 anos

    Ano de 2013. Mês de junho. Está na capa da Veja. A atriz Angelina Jolie anuncia que fez mastectomia profilática, por ser portadora de mutação no gene BRCA. Decisão corajosa e criticada por muitos. Penso na minha família. Minha avó paterna que teve câncer de mama aos 49 anos e faleceu. Minha única tia paterna, que também teve câncer de mama na mesma faixa etária. Anos mais tarde, ela teve câncer de ovário.

    Um sinal amarelo se acendeu…Alerta…eu, com 34 anos, não estava fazendo acompanhamento adequado com o mastologista. Sabia que existia um teste genético bem caro para o BRCA. Será que era para mim? Ligo para marcar uma consulta com um médico mastologista, meu amigo. Ele me orienta que independentemente da genética, eu deveria fazer um acompanhamento adequado, com ressonância de mama frequente. Faço minha primeira ressonância magnética, que vem normal.

    Decido fazer o teste genético. Apesar de caro, valia o investimento. Melhor tirar a pulga de trás da orelha, certo? No meu íntimo, sabia que não seria positivo. Dois meses depois, saiu o resultado do exame. Recebi uma ligação, estava na praia…Positivo. Mutação no gene BRCA – 2. Fiquei olhando o pôr-do-sol ainda sem entender direito…. Ter uma mutação não significa ter câncer, correto?

    Fui encaminhada ao oncologista e ao oncogeneticista. Iria precisar iniciar o uso de tamoxifeno profilático. Perguntaram se eu não queria fazer a cirurgia preventiva de mastectomia. Disse que precisava me preparar, para criar coragem. Perguntaram se eu não queria ter filhos… Disse que sim, claro! O ideal seria ter filhos logo, para depois fazer a retirada dos ovários também. O oncologista quis me apresentar candidatos a namorado. O oncogeneticista também.

    Como criar coragem para uma mastectomia preventiva aos 34 anos, com uma vida até então dedicada a carreira, trabalhando muito, sem namorado? Eu realmente precisava pensar mais um pouco. Decidi congelar os óvulos.
    Eu também tinha que avisar a minha família sobre a mutação, meus irmãos teriam que ser testados. Liguei para a minha prima de 37 anos para avisar sobre a mutação e descobri que ela estava com câncer de mama. Me assustei.

    No mês seguinte, em setembro, por incrível que pareça, conheci aquele que hoje é meu marido, Adriano. Após sairmos algumas vezes ele certa vez me perguntou se estava tudo bem, já que eu ia bastante ao médico. Falei que estava tudo bem. Até porque estava mesmo.

    Final de novembro, e me programei para repetir os exames semestrais. 2a ressonância da vida. Fiz os exames um pouco antes pois iria fazer um estágio fora no início de dezembro. Já queria deixar tudo pronto.

    Dias depois, recebo o exame na minha mesa. Uma imagem suspeita na mama direita. Ligo para o mastologista. Faço um exame de ultrassonografia no dia seguinte. Não deve ser nada, me dizem, mas melhor fazer uma biopsia. Marcada para o dia seguinte. Pergunto qual a chance de vir algo. A resposta é 20%. No dia seguinte estava com vôo marcado para o estágio fora. Posso ir? Sim, tranquila…

    Dezembro de 2013. Viajo com a compressa, fazendo gelo local. Chegou o tão sonhado estágio! Do aeroporto vou direto para a clínica do médico que acompanharei. Assim que consigo conexão com a internet, já na clinica, chamadas perdidas, recados do meu mastologista, que também é meu amigo de faculdade.

    Nós, médicos, sabemos que notícias ruins viajam muito rápido. Pedi para usar o telefone. E liguei para ele. Abalado, e com muita sensibilidade, me deu A noticia. Pediu para que eu ligasse para familiares. Ninguém atendeu…teatro de fim de ano dos sobrinhos. Liguei para o Adriano. Contei que estava com câncer de mama e, que se ele quisesse, podíamos voltar a conversar em um futuro próximo. Estamos juntos – foi sua resposta. Meu coração apertado bateu mais forte.

    E lá estava eu, sozinha, em meu estágio no exterior. Me olhei no espelho e pensei: por que eu? Não é justo! Sempre fui uma boa menina, boa aluna, fazia atividade física, evitava beber, dormia bem! Como assim EU? Recebi uma cópia do exame. Fiquei vendo o meu nome. Será que não tinha sido trocado mesmo? Depois dessa fase de negação, me olhei de novo no espelho e disse: – Sou forte, isso não me pertence, vou me alimentar bem, mesmo sem fome, para me preparar para a cirurgia. A coragem, como podem perceber, chegou bem rápido.

    Voltei o mais rápido possível. Adriano veio me buscar, recebi apoio dos amigos e familiares, fiz todos os exames pré-operatórios, operei 13 dias após o diagnostico. Decidi fazer a mastectomia bilateral, pois tinha chance de 50% de ter câncer na outra mama também.

    Na volta da cirurgia, já no quarto, encontro o Adriano ao lado da minha família. Foi assim, romanticamente, que conheceram meu namorado. Ainda internada já começaram as boas notícias. Não iria precisar de quimioterapia devido ao diagnóstico precoce. O carcinoma era microinvasivo. Depois me liberaram da radioterapia também. Muitas alegrias.

    Por um tempo, me permiti trabalhar menos, parei de trabalhar aos sábados, me casei 2 anos depois e me sinto muito afortunada por ter encontrado ótimos médicos no meu caminho.

    E Angelina, sabe porque eu demorei tanto tempo para agradecer? É que eu queria contar que os meus filhos gêmeos Julia e Bruno nasceram há alguns meses e são lindos e saudáveis. Há vida, sim, e muita vida, após o câncer.

    Portal Câncer de Mama Brasil

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