A maior parte dos cânceres de mama são hormônio dependente, ou seja, os tumores precisam dos hormônios sexuais do organismo (estrogênio e progesterona) para se desenvolver. Esses tumores são denominados luminais. Ao mesmo tempo que são o maior grupo de tumores, cerca de 80%, em geral são menos agressivos e têm uma maior possibilidade de cura. Entretanto, pode ocorrer o retorno do câncer em uma parcela dessas pacientes, mesmo após o tratamento mais adequado disponível. Em metade desses casos, a nova ocorrência da doença pode acontecer após 5 anos de tratamento.
Novas drogas têm sido estudadas e testadas para evitar ou reduzir a taxa de recorrência dos tumores luminais. Uma classe desses medicamentos, com diversos estudos em andamento, é denominada de inibidores de cíclica (inibidores CD 4/6). Estas drogas se mostraram eficientes em estudos com tumores avançados e metastáticos (lesões disseminadas pelo corpo). Recentemente, um estudo com uma dessas drogas o abemaciclibe, demonstrou eficácia em reduzir a recorrência para pacientes com câncer de mama luminal, mas com fatores desfavoráveis como acometimento axilar significativo, tumores maiores, Grau III, índice de proliferação >20%. Ou seja, os resultados sugerem um benefício para tumores luminais de alto risco. Esse estudo já foi descrito em um outro artigo aqui no portal (clique aqui para o artigo).
O estudo denominado Pallas (“PALbociclib CoLlaborative Adjuvant Study”) empregou uma outra droga da mesma classe chamada palbociclibe. Ela foi testada para tratamento de câncer de mama inicial nos estadios II e III (tumores maiores que 2 cm e/ou com acometimento axilar). Para o desapontamento dos investigadores, os resultados parciais até agora sugerem não haver benefício significativo na adição do palbociclibe ao tratamento hormonal tradicional para pacientes com tumores iniciais hormônio dependente. O fato desse estudo ter um resultado diferente do estudo do abemaciclibe descrito acima, é intrigante. Até o momento foi feita apenas uma comunicação à imprensa dos resultados dos dois estudos. Temos que aguardar a publicação dos dados quando então conheceremos os detalhes da população estudada e a magnitude da diferença de resultado entre os grupos. Possivelmente o perfil de risco dos tumores dos estudos sejam diferentes o que explicaria a discrepância de resultados. Assim, poderemos procurar entender os achados contraditórios e eventualmente identificar fatores que separem as pacientes que possam se beneficiar da medicação. É o que chamamos de individualização de casos ou medicina personalizada.
Autores:
- Dr. João Henrique Penna Reis > Belo Horizonte/MG – CRM-MG: 24.79
- Dr. Guilherme Novita > São Paulo/SP – CRM-SP: 97.408
- Dr. Eduardo Millen > Rio de Janeiro/RJ – CRM-RJ: 5263960-5
- Dr. Felipe Zerwes > Porto Alegre/RS – CRM-RS: 19.262
- Dr. Francisco Pimentel Cavalcante > Fortaleza/CE – CRM-CE: 7.765
- Dr. Hélio Rubens de Oliveira Filho > Curitiba/PR – CRM-PR: 20.748