O que é a recorrência do câncer de mama?
Algumas pacientes que tiveram câncer de mama podem apresentar nova manifestação da doença algum tempo após o término do tratamento. Quando a doença retorna na mama, é chamada de recorrência ou recidiva local. Quando volta em outros órgãos, é chamada de recidiva à distância. O tratamento e as chances de cura dependem do tipo e do local de recorrência da doença.
A maioria dos casos de câncer de mama consegue ser curada com o tratamento inicial, porém uma pequena parte das pacientes pode apresentar retorno da doença, seja na mama (recorrência local), nos gânglios axilares (recidiva locorregional) ou em outros órgãos do corpo (metástase à distância).
As recorrências mamárias e axilares do câncer são altamente desgastantes para as pacientes, mas não alteram as chances de cura. Significam apenas que se trata de um tumor mais agressivo e pode resultar em novos tratamentos. Já a presença de metástase a distância é mais grave e deve ser tratada de acordo com o local e o tipo tumoral.
A maioria das recidivas ou recorrências costuma acontecer nos primeiros anos após o tratamento. Mas, algumas vezes a doença pode voltar a se manifestar muitos anos depois. O risco é mais elevado nos primeiros dois anos após o tratamento, diminui um pouco entre o terceiro e o quinto ano e ainda mais entre o quinto e o décimo ano. Em teoria, depois deste período de 10 anos, o risco de câncer de mama é semelhante a mulheres que nunca tiveram a doença.
A maior parte das recidivas na mama ocorre na região onde era o tumor anterior. Geralmente, o tipo de câncer costuma ser o mesmo, mas podem existir variações. As metástases em outros órgãos também costumam ser do mesmo tipo do tumor anterior, mas é importante confirmar isso com biópsia, pois pode influir diretamente no tratamento.
O risco da doença retornar depende principalmente das características do tumor anterior: tamanho, número de linfonodos comprometidos e agressividade biológica. Outros fatores de risco para recorrência da doença são a idade menor que 40 anos e a presença de mutações genéticas. O risco para metástases a distância também são os mesmos acima, exceto pelas mutações genéticas.
Outra situação que aumenta bastante o risco de recorrência do câncer de mama é o tratamento inadequado ou incompleto. Portanto, deve-se ter especial cuidado com o tratamento inicial e com isso reduzir este risco ao máximo.
Como detectar o câncer de mama?
As informações sobre o diagnóstico de doença em outros órgãos (metástase a distância) está abordada em outro texto neste mesmo portal e pode ser consultada clicando neste link: Tenho câncer de mama metastático, e agora?
As recidivas mamárias do câncer de mama podem se apresentar das mesmas formas que a doença inicial. Normalmente, as lesões são nódulos irregulares ou microcalcificações heterogêneas. Outras formas de manifestação nos exames de imagem são assimetrias, densidades ou realces (estes últimos apenas em ressonância magnética).
Toda alteração palpável após o câncer de mama deve ser investigada. Mas, felizmente a maioria das alterações no exame físico são decorrentes de processos cicatriciais causados pelo próprio tratamento cirúrgico ou radioterápico.
As chances de cura estão diretamente ligadas ao tamanho do tumor no momento da detecção, sendo que quanto menor, melhor. Sendo assim, a melhor forma de detecção de recorrências mamárias é através da mamografia, descobrindo a doença antes dela apresentar sintomas.
Portanto, todas mulheres que já tiveram câncer de mama devem fazer mamografia anualmente. Algumas vezes, existe benefício da adição de outros exames, tais como o ultrassom ou a ressonância magnética de mamas, mas isso deve ser individualizado.
Após o diagnóstico da lesão suspeita, deve ser realizada da retirada de fragmentos da mesma por biópsia com agulha grossa. O procedimento é feito ambulatorialmente e com anestesia local. Este exame permite a confirmação da lesão e orienta o tratamento.
Como tratar a recorrência do câncer de mama?
As informações sobre o tratamento da doença em outros órgãos (metástase a distância) está abordada em outro texto neste mesmo portal e pode ser consultada clicando neste link: Tenho câncer de mama metastático, e agora?
Já o tratamento da recidiva local ou locorregional do câncer de mama costuma seguir os mesmos princípios da doença inicial, porém com algumas particularidades.
A cirurgia continua necessária e deve remover todo o tumor, com margens livres. As margens livres são definidas pela presença de tecido saudável ao redor de todo o tumor retirado, demonstrando assim que toda a lesão foi retirada.
Mas, diferente dos casos de câncer de mama inicial, nestes casos a cirurgia conservadora da mama (quadrantectomia) está contra-indicada. Isso ocorre porque a radioterapia é etapa fundamental do tratamento com preservação da mama e as chances de nova recidiva sem radioterapia são muito altas. O problema é que o organismo não suporta duas doses de radioterapia no mesmo local, pois pode haver complicações graves dos locais irradiados (p. ex.: necrose).
Alguns casos muito selecionados podem ser submetidos a uma segunda cirurgia conservadora, sem a complementação com radioterapia. Normalmente, isso é feito apenas em mulheres idosas e com tumores de baixa agressividade. Mas, cada caso deve ser discutido individualmente e a paciente deve entender os riscos.
Além da cirurgia mamária, é necessária nova avaliação dos linfonodos (gânglios) da axila, exceto em mulheres que já retiraram todos os gânglios na primeira cirurgia. Se a axila não foi abordada anteriormente ou se foi feita apenas avaliação do linfonodo sentinela, será necessária nova cirurgia axilar. Normalmente, pode ser realizada biópsia do linfonodo sentinela (primeiro linfonodo a receber a drenagem da mama). Porém, alguns casos necessitam de retirada de todos os linfonodos da axila (linfadenectomia ou esvaziamento axilar).
A reconstrução mamária após a mastectomia pode ser realizada na maioria dos casos, sem prejuízo a cura. A maior parte das reconstruções é feita com expansores de tecido ou próteses de silicone. Algumas pacientes precisam de transposição de pele de outros locais do corpo, geralmente abdome ou região dorsal.
O conceito de tratamento complementar após a cirurgia (ou adjuvante) com quimioterapia, bloqueadores hormonais e radioterapia nem sempre é claro para as pacientes. Afinal, para que terapias tóxicas se todo o tumor foi retirado na cirurgia?
Na verdade, além do tumor que é visto na mama, podem existir outros focos microscópicos que podem permanecer mesmo após a cirurgia. Também existem células tumorais circulando no organismo. A radioterapia e o tratamento medicamentoso (quimioterapia, bloqueio hormonal e terapia anti-Her-2) ajudam a eliminar estes focos e melhoram o controle da doença e as chances de cura.
Resumidamente, pode ser dito que a radioterapia deve ser feita apenas em casos que não receberam este tratamento na primeira cirurgia.
Os tratamentos medicamentosos devem ser feitos de acordo com o tipo e a extensão da recidiva.
Normalmente, o bloqueio hormonal (terapia endócrina) com tamoxifeno ou inibidor de aromatase está indicada em todas as pacientes com tumores invasivos ou in situ que tenham receptores de estrógeno ou progesterona na superfície de suas células. Na maioria das vezes, a escolha é por um tipo de tratamento diferente do anterior, se este foi realizado.
A terapia anti-Her-2 costuma ser indicada para os casos de recorrência de carcinoma invasivo que expressem a proteína Her-2 na sua superfície.
A quimioterapia pode ser feita em recidivas invasivas, dependendo da extensão e da biologia do novo tumor. Novamente, a escolha recai sobre medicações que não foram usadas anteriormente.
Em resumo, as recorrências locais e locorregionais do câncer de mama são episódios altamente desagradáveis e que abalam bastante as pacientes, mas não alteram as chances de cura do câncer. O diagnóstico precoce das recidivas mamárias é importante, pois permite tratamentos mais leves e maiores chances de cura. Os tratamentos atuais permitem manter a integridade física da mulher e chances de cura bastante elevadas.