A cognição é um termo utilizado quando nos referimos ao conhecimento ou acúmulo de informações adquiridas através do processo da aprendizagem, incluindo atenção, memória, raciocínio e linguagem. Alterações cognitivas são relacionadas ao tratamento do câncer de mama, especialmente a quimioterapia, conhecido como “chemo-brain”, representando um temido fator adverso para a qualidade de vida.
O tratamento do câncer de mama impacta positivamente a vida das pacientes devido as elevadas taxas de cura. Entretanto, não é isenta de efeitos adversos, que podem piorar a qualidade de vida destas mulheres. Alterações cognitivas, como a memória, capacidade de concentração e outros parâmetros, podem ser afetadas, com esses déficits perdurando por 20 ou mais anos após finalizado o tratamento. O risco para desenvolver essas alterações é multifatorial, incluindo psicológico, genético, sócio-demográfico e estilo de vida. O tratamento pode ainda acelerar o processo biológico de envelhecimento, incluindo envelhecimento cognitivo. A terapia mais relacionada com esse efeito colateral é a quimioterapia, sendo conhecido popularmente como “chemo-brain”. Por outro lado, pesquisas levam a acreditar que a própria doença em si, e outros tratamentos incluindo a cirurgia, radioterapia e hormonioterapia, também podem estar associados a este déficit cognitivo que varia entre 17 a 70% dos casos de câncer de mama.
O estudo TAILORx avaliou o benefício da quimioterapia em pacientes submetidas a um teste molecular (Oncotype DX): as mulheres foram aleatoriamente selecionadas a realizar quimioterapia e hormonioterapia ou apenas hormonioterapia. Além do objetivo principal do estudo, foi realizado uma avaliação em cerca de 552 pacientes utilizando uma plataforma validada para funções cognitivas associadas a terapia após 3, 6, 12, 24 e 36 meses do início do tratamento. As comparações entre os grupos (quimioterapia + hormonioterapia versus hormonioterapia) demonstrou que, em 3 e 6 meses, o grupo que realizou quimioterapia teve maior impacto nas funções cognitivas, mas não houve diferenças em 12, 24 e 36 meses. Esses resultados mostram que o efeito “chemo-brain” acontece precocemente, mas parece não ser sustentável. Ao mesmo tempo, as avaliações cognitivas não voltaram aos níveis pré-tratamento do câncer de mama, mesmo no grupo que não foi submetido a quimioterapia, indicando que a hormonioterapia pode, hipoteticamente, também desempenhar um papel nestas alterações (“endocrine brain). Esta análise foi publicada no Journal of Clinical Oncology.
Outros pequenos estudos também evidenciaram o fenômeno “endocrine brain”. Essa publicação na revista da ASCO confirma esses relatos anteriores. Portanto, é real este fenômeno citado por várias pacientes. Entender completamente o mecanismo fisiopatológico, traçar estratégias preventivas, bem como ajudar a melhorar quem apresenta tais sintomas são essenciais no manejo dessas mulheres, com o intuito de minimizar o impacto em sua qualidade de vida. Medidas como avaliar transtornos emocionais associados, checar função tireoideana, e outras funções fisiológicas, prática de atividade física, alimentação adequada, criar rotinas, além do apoio familiar e da equipe médica podem ser importantes neste momento.
Autores:
- Dr. Francisco Pimentel Cavalcante > Fortaleza/CE – CRM-CE: 7.765
- Dr. Eduardo Millen > Rio de Janeiro/RJ – CRM-RJ: 5263960-5
- Dr. Felipe Zerwes > Porto Alegre/RS – CRM-RS: 19.262
- Dr. Guilherme Novita > São Paulo/SP – CRM-SP: 97.408
- Dr. Hélio Rubens de Oliveira Filho > Curitiba/PR – CRM-PR: 20.748
- Dr. João Henrique Penna Reis > Belo Horizonte/MG – CRM-MG: 24.79